O Tripé da Sustentabilidade

Existem dezenas de expressões que podem definir o papel social das empresas, sendo todas louváveis. Contudo, para o Instituto Brasileiro de Ética nos Negócios, a Responsabilidade Social das Empresas (RSE) pode ser entendida como:

"O comprometimento voluntário e permanente de uma empresa em adotar e exercer a Ética nos Negócios, contribuindo para o desenvolvimento econômico, simultaneamente com a preservação e conservação ambiental e a melhora constante da qualidade de vida de seus colaboradores e familiares, da comunidade local e da sociedade como um todo e desta forma, naturalmente, a empresa estará trilhando o caminho da Sustentabilidade".

Note que esta definição considera a Ética nos Negócios como prioridade porque acreditamos que a gestão e a atuação empresarial responsável devem, necessariamente, se alicerçar na Ética.

Atualmente, muito se tem falado sobre o Tripé da Sustentabilidade. Este termo tem como origem as dimensões econômica, social e ambiental levadas em conta no “Triple Bottom Line”. De fato, as empresas têm responsabilidades, entretanto a econômica não pode ser levada em consideração, pois já está implícita, ou seja, se a empresa não tiver desenvolvimento econômico, não der lucro, ela fecha as suas portas! Portanto, as empresas têm uma responsabilidade prioritária e esta responsabilidade é a de conduzir os seus negócios de maneira honesta, íntegra e ética. Se isto for exercido plenamente, elas se tornarão socialmente responsáveis e ecologicamente corretas naturalmente e, assim, estarão trilhando o caminho da tão discutida, perseguida e necessária Sustentabilidade. Então, o verdadeiro Tripé da Sustentabilidade deve ser aquele que considera as dimensões ética, social e ambiental.

Vale destacar também que empresas éticas, de certa forma, acabam agradecendo à sociedade dizendo: Obrigado! E isto é facilmente compreensível, porque a expressão “obrigado” pode ser interpretada como uma “fórmula de agradecimento por um serviço prestado ou obséquio recebido”. Então, as empresas acabam “agradecendo” à sociedade por intermédio das ações responsáveis, seja de cunho social ou ambiental. Ou seja, é como se a empresa estivesse “obrigada” a devolver à sociedade e ao meio ambiente parte daquilo que recebe de ambos.

Podemos afirmar com tranquilidade que não existe e jamais existirá Responsabilidade Social sem Ética nos negócios; não existe e jamais existirá Responsabilidade Ambiental sem Ética nos negócios; e muito menos conquistaremos o Desenvolvimento Sustentável sem Ética nos negócios. Ao contrário, teremos apenas a utilização (no passado) do Marketing da Responsabilidade Social e, nos dias atuais, do Marketing da Sustentabilidade. Ora, de que adianta uma organização se autointitular Empresa-Cidadã se seu discurso corporativo for diferente das suas reais práticas empresariais? Este, aliás, é o principal problema encontrado no mundo dos negócios atual: ainda existe um gigantesco abismo entre aquilo que muitas empresas pensam e pregam e o seu modo de agir e realizar. Isto é, a grande preocupação é a Reputação Empresarial (aquilo que as pessoas pensam que a empresa é) e, por muitas vezes, o Caráter Corporativo (aquilo que a empresa é, de fato) é deixado de lado ou debaixo do tapete.

Porém, é preciso reconhecer que, ainda que se trate de uma prática empresarial apoiada nos manuais do marketing, isso de alguma forma tem beneficiado a sociedade, preservado o meio ambiente, e a Sustentabilidade vem sendo perseguida. Além do mais, é visível o crescimento do número de empresários e executivos que abandonam essa cultura suicida e adentram, verdadeiramente, no universo seguro e lucrativo da Ética.

Ah! A Ética! Uma palavra pequena, tão falada e, no mundo atual, tão pouco praticada! Todos nós sabemos seu significado, mas é muito difícil de explicar quando alguém pergunta: Afinal, o que é Ética? Para o Instituto Brasileiro de Ética nos Negócios, a Ética pode ser mais facilmente compreendida como “tudo que for bom, tudo que for justo, tudo que for verdadeiro, tudo que for nobre, tudo que for correto, tudo que for puro, tudo que for amável, tudo que for de boa fama”... Isto tudo é Ética!

Cabe aqui outro questionamento: É fácil exercer a Ética? A resposta é: Não! Primeiro, porque somos seres humanos e, portanto, falhos e imperfeitos. Segundo, porque nos deparamos com uma quantidade, cada vez maior, de dilemas éticos todo santo dia e em todas as áreas de nossa vida. E, por muitas vezes, escolhemos o caminho correto, porém, em outras, mesmo quando queremos acertar, acabamos errando. Entretanto, não pode existir nada mais nobre, louvável e exemplar do que buscar a excelência quando o assunto é a Ética, seja como pessoa, seja como profissional, seja como empresa. Aliás, sempre dizemos que as empresas não têm vida própria, somos nós que damos vida a elas e, se o conjunto das ações de cada um dos executivos e funcionários for ético, a empresa, naturalmente, será ética. O padrão de conduta que adotar será o responsável pela construção de sua reputação e do caráter empresarial extremamente necessário para que seja publicamente reconhecida como uma “Empresa Ética” por todos os seus Stakeholders.

Então, podemos afirmar que "a aferição da atuação responsável de uma determinada empresa é a Ética nos Negócios", e ponto final.

Anos atrás, essa afirmação soaria filosoficamente maravilhosa. Na prática, seria utópica, e no mundo dos negócios, impraticável. Porém, atualmente, os empresários, dirigentes e executivos já se deram conta de que a Ética nos Negócios é algo sério e que começa a fazer sentido. Poderíamos ir até mais longe e dizer que "a Ética nos Negócios significa a sobrevivência das organizações".

Por todas essas razões, o Instituto Brasileiro de Ética nos Negócios acredita que "a Ética nos Negócios é a base da atuação responsável e o passaporte para a Sustentabilidade".

E, para concluir este tema, é oportuno lembrar uma das mais completas definições de Ética e que, inclusive, nos faz refletir e repensar sobre nossas próprias ações, seja como pessoas ou como profissionais, descrita pelo professor Francisco da Silveira Bueno (²):

"Ética é a parte da filosofia que estuda os deveres do homem para com Deus e a sociedade".

O Código de Ética

DEFINIÇÃO

O Instituto Brasileiro de Ética nos Negócios define o Código de Ética como "a declaração do conjunto de direitos, deveres e responsabilidades empresariais para com todos os Stakeholders, refletindo a cultura, os princípios e os valores da empresa, a gestão e a atuação social e ambiental, e o conjunto das normas de conduta para dirigentes, executivos e colaboradores, como também para as empresas integrantes da cadeia produtiva, mediante os quais atuam as premissas que enriquecem os processos decisórios da empresa e orientam o seu comportamento. Além disso, deve ser o principal instrumento de governo e da gestão estratégica das empresas, contribuindo, inclusive, para se trilhar o caminho da Sustentabilidade”.


IMPORTÂNCIA

O Código de Ética pode ser interpretado como a Lei Maior da empresa, sua Constituição, ou seja, o Código de Ética é uma "Carta dos Direitos e dos Deveres Fundamentais" (morais), por meio da qual a empresa indica e esclarece as suas próprias responsabilidades éticas, sociais e ambientais. Assim, este instrumento tem a função de explicitar um tipo de CONTRATO SOCIAL (³) responsável por ligar a empresa aos vários grupos e indivíduos que interagem direta ou indiretamente no dia a dia de seus negócios, os chamados Stakeholders.

O Código de Ética é o instrumento que permite a todos os Stakeholders conhecer uma empresa, suas formas de atuação e suas normas de conduta, tanto dela (empresa) como de todos os seus funcionários, daí a importância de divulgá-lo no web site empresarial, pois somente assim a empresa tornará público, de fato, o seu compromisso.

Além disso, o Código de Ética é a principal ferramenta e a base de atuação da citada Tripla Responsabilidade Empresarial (TRE), ou seja, aquela que contempla as dimensões Ética, Social e Ambiental, e pode ser incorporado às empresas de todos os ramos de atividade e de qualquer porte, bastando haver o desejo e o comprometimento de melhorar a gestão e a atuação empresarial.

Existe outro instrumento empresarial, de igual valor e importância, no contexto das empresas eticamente responsáveis. Trata-se do Balanço Social ou, como é mais conhecido atualmente, Relatório de Sustentabilidade o qual tem como principal função informar e divulgar aos Stakeholders os avanços e as conquistas da atuação responsável da empresa.


CONTEÚDO

O Código de Ética Corporativo vem se aperfeiçoando ao longo do tempo. Originado da Declaração de Princípios (descrição da missão, visão, princípios e valores da empresa), passando pelo Código de Conduta (regras de conduta a serem observadas e cumpridas por todos os funcionários da empresa) e chegando aos atuais Códigos de Ética que podem contemplar num só instrumento:

. Missão e visão da empresa
. Princípios e valores da empresa
. Princípios Éticos gerais
. Princípios gerais de justiça e equidade no relacionamento com os Stakeholders
. Gestão, tratamento, respeito e preservação do meio ambiente
. Gestão da Sustentabilidade
. Normas e padrão de comportamento da empresa, de seus colaboradores e da cadeia produtiva
. Organismos internos para reportar alguma desconformidade ao código
. Procedimentos e padrões de atuação e controle


RELAÇAO COM O CONTRATO DE TRABALHO

Podemos também afirmar que o Código de Ética é uma extensão do Contrato de Trabalho dos funcionários de uma empresa, ou seja, é uma “cláusula adicional” e, portanto, estabelece direitos e deveres recíprocos. E isto é de fácil comprovação, bastando constatar aquilo que foi narrado num determinado Código de Ética analisando durante este estudo:

“A empresa espera que seus colaboradores a mesma conduta ética descrita no presente Código de Conduta Profissional dos Empregados, que passará a fazer parte dos contratos de trabalho a serem firmados, assim como dos futuros contratos com fornecedores e prestadores de serviços”.

Notemos que esta relação jurídica contempla não só os colaboradores, mas também os integrantes da cadeira produtiva da empresa, estendendo e exigindo igual atuação responsável desses atores que prestam serviços ou comercializam seus produtos para a empresa.

Do mesmo modo, em outro código analisado, encontramos uma advertência até para os ex-funcionários da empresa:

“Este Código de Ética se aplicará aos colaboradores que vierem a se afastar da empresa, permitindo-nos reparar na Justiça quaisquer ações que possam causar prejuízo ou comprometer a imagem, o patrimônio, os resultados financeiros da Companhia e até mesmo a sua capacidade competitiva no mercado”.


VANTAGENS E DESVANTAGENS

Para exemplificar e ilustrar as vantagens e desvantagens para a empresa que elabora, adota e divulga um Código de Ética, transcrevemos um trecho do trabalho sobre o referido tema, elaborado por renomadas especialistas em Ética Empresarial, as professoras Maria do Carmo Whitaker e Maria Cecília Coutinho de Arruda:

"A adoção de um Código de Ética é uma ótima oportunidade de aumentar a integração entre os funcionários da empresa e estimular o comprometimento deles. Ademais, o Código de Ética permite a uniformização de critérios na empresa, dando respaldo para aqueles que devem tomar decisões.

Serve de parâmetro para a solução de conflitos e também protege, de um lado, o trabalhador, que se apoia na cultura da empresa, refletida nas disposições do código e que, de outro lado, serve de respaldo para a empresa, por ocasião da solução de problemas de desvio de conduta de algum colaborador, acionista, fornecedor ou algum outro stakeholder.

O Código de Ética costuma trazer para a empresa harmonia, ordem, transparência, tranquilidade, em razão dos referenciais que cria, deixando um lastro decorrente do cumprimento de sua missão e de seus compromissos.

É absolutamente imprescindível que haja consistência e coerência entre o que está disposto no Código de Ética e o que se vive na organização. Caso contrário, ficaria patente uma falsidade que desfaz toda a imagem que a empresa pretende transmitir ao seu público. Essa é a grande desvantagem do Código de Ética”.

Podemos concluir, então, que o “Código de Ética é a base de sustentabilidade moral e o alicerce ético que deve orientar e conduzir a gestão e as ações de empresas socialmente responsáveis, ecologicamente corretas e que buscam trilhar o caminho da Sustentabilidade”.

Como mantemos nossa integridade? e o Teste da Ética

Nas análises dos Códigos de Ética neste estudo, nos deparamos com dois quesitos bastante interessantes e que vale a pena destacarmos nesta introdução, servindo de exemplo e, especialmente, para nossa reflexão.

O primeiro é a resposta a um questionamento: Como mantemos nossa integridade?

“Diretrizes, regras e políticas não nos tornam honestos. Elas apenas delimitam o caminho que devemos seguir. Cada um de nós deve tomar a sua própria decisão, com base nos nossos próprios valores e na nossa coragem. Apenas quando tornamos o comportamento ético uma reflexão tão natural quanto respirar, realmente temos integridade. A integridade deve ser o ponto de partida de tudo o que fazemos. Quando tomamos decisões, nós as baseamos em nosso senso do que é certo ou errado. Desde que sejamos leais aos nossos ideais, sabemos que o que fazemos é o certo. A longo prazo, a integridade funciona. A integridade não é fácil! Ela não nos permite tomar atalhos. Pode significar aceitar um sacrifício em curto prazo para criar um benefício em longo prazo. A integridade pode, às vezes, até nos tornar impopulares temporariamente. Quando encorajamos e apoiamos uns aos outros a tomarmos a decisão correta, a integridade deixa de ser difícil. Ela passa a ser a norma que todos seguimos e o ele que nos une”.

E o segundo, é o que chamamos de Teste da Ética que serve tanto para o profissional quanto, por analogia, para cada um de nós.

Quando você se deparar com um problema ou com uma situação confusa, responder a estes questionamentos o ajudará a tomar uma decisão:

1. Teste dos Valores
. A ação que proponho está de acordo com os valores da empresa?
. Ela é honesta e verdadeira?

2. Teste da Política
. O que estou planejando fazer é consistente com o Código de Ética da Empresa?

3. Teste da Lei
. A ação que proponho é legal? Ela violará alguma Lei ou regulamento?

4. Teste da Imprensa
. Se o que eu fizer sair em um jornal ou na televisão ficarei orgulhoso de minhas ações?

5. Teste dos Outros
. O que pensarão meu gerente, meu supervisor, meus colegas de trabalho e minha família sobre o que estou planejando fazer?

6. Teste do Espelho
. Quais são as conseqüências da ação planejada?
. Como esta ação afetará outras pessoas?
. Quais são os custos?
. Como me sentirei comigo mesmo se fizer esta ação?


(*) Fonte: Código de Ética do Grupo JBS-Friboi



Créditos:

(1) Código de Ética – Maria Cecília Coutinho de Arruda – Negócios Editora

(2) Minidicionário da Língua Portuguesa, Silveira Bueno, Ed. FTD, revisada e atualizada por Helena Bonito C. Pereira e RenaSigner, 1996

(3) Programa REE Brasil: tem como referência o Projetto Q-RES (Qualità della Responsabilità Ético-Sociale d´Impresa) idealizado na Itália em 1999 pelo CELE – Centre for Ethics Law & Economics da Universidade Cattaneo Castellaza (www.liuc.it) e realizado em colaboração com um grupo de empresas, associações profissionais, empresas de consultoria e organizações sem fins lucrativos, firmemente convictos da necessidade e da utilidade da ética empresarial. A responsabilidade pela redação final do Projeto Q-RES é da equipe do CELE , coordenada pelo professor Lorenzo Sacconi, uma das maiores autoridades em Ética nos Negócios em todo o mundo, que autorizou o Instituto Brasileiro de Ética nos Negócios a utilizar e divulgar este excelente material em nosso país. Citado projeto foi devidamente traduzido pelo Tradutor Juramentado, Sr. Flávio Pellegrini, proprietário da Accademia Italiana Pellegrini, na cidade de Campinas-SP e a adaptação final foi realizada pelo Instituto Brasileiro de Ética nos Negócios. Mais detalhes sobre o Programa REE Brasil, acesse www.eticanosnegocios.org.br.